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Solenidade de Corpus Christi

Solenidade de Corpus Christi
 
Reflexões do Card. Dom Orani João Tempesta, Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Neste dia 19 de Junho, celebraremos a solenidade de “Corpus Christi”. A expressão latina “Corpus Christi” tão utilizada nesta ocasião significa Corpo de Cristo. É uma festa que celebra a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia. É realizada na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez, acontece no domingo seguinte de Pentecostes. É uma festa de preceito, isto é, devemos participar da celebração da Missa neste dia.
Em nossa Diocese o tema que nos norteou nesses dias foi “Eucaristia e Caridade”, com o lema “Dá-lhe vós mesmos de comer” (Mt 14, 16b). Além de atualizar o “ano da caridade” nos impulsiona para anunciarmos o Senhor Jesus em trabalhos missionários e, ao mesmo tempo, estarmos comprometidos com um mundo mais justo e fraterno. A assistência e promoção social unida às justas reinvindicações são compromissos fraternos de todo cristão neste mundo tão injusto e desigual. Durante a procissão recolhemos alimentos não perecíveis como sinais de que, alimentados pelo Pão do Céu, partilhamos também o pão de cada dia para os irmãos e irmãs.
A procissão pelas vias públicas atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (Cân. 944) que determina ao Bispo diocesano que a providencie, onde for possível, “para testemunhar publicamente a veneração para com Santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo de Sangue de Cristo”. 
É recomendado que nestas datas, a não ser por causa grave e urgente, não se ausente da diocese o Bispo (Cân. 395 SS3). Em muitas cidades portuguesas e brasileiras é costume ornamentar as ruas por onde passa a procissão com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa. Esta festividade de longa data se constitui uma tradição no Brasil, principalmente nas cidades históricas, que se revestem de práticas antigas e tradicionais e que são embelezadas com decorações de acordo com costumes locais.
A origem da solenidade do Corpo e sangue de Cristo remonta ao século Xlll. Esta solenidade litúrgica foi Instituída pelo Papa Urbano IV(1262-1264), através da bula “transiturus”, de 11 de Agosto de 1264, para ser celebrada na Quinta-feira após a festa da Santíssima Trindade, que acontece  no domingo depois de Pentecostes. Urbano IV, antes de ser escolhido Papa, foi Cônego de Liége (Bélgica) e se chamava Tiago Pantaleão de Troyes, o mesmo que recebeu o segredo das visões da Freira Juliana de Liége, que pedia uma festa da eucaristia no calendário litúrgico. Esta solenidade entra no calendário litúrgico da Igreja para evidenciar e enfatizar a presença real  do Senhor Jesus no pão e no cálice consagrados. Conta à história que um sacerdote chamado Pedro de Praga, muito piedoso e zeloso pastoralmente, vivia angustiado por dúvidas sobre a presença real de Cristo no pão consagrado. 
Decidiu então ir em peregrinação ao túmulo dos Apóstolos Pedro e Paulo em Roma, para pedir o dom da fé. Ao passar por Bolsena (Italia), enquanto celebrava a Santa missa, foi novamente acometido pela  dúvida. Na hora da consagração veio-lhe a resposta em forma de milagre: A sagrada hóstia branca transformou-se em carne viva, respingando sangue, manchando o corporal (pano branco no qual é colocado as sagradas espécies consagradas), o sanguíneo (paninho de limpar o cálice)  e a toalha do altar. Por solicitação do Papa Urbano IV, os objetos milagrosos foram para Orvieto em solene procissão. Esta foi a primeira procissão. Em 11 de  Agosto de 1264, o Papa lançou de Orvieto para o mundo Católico o preceito de uma festa solene em honra do corpo e sangue do Senhor. 
A festa de “Corpus Christi”, é um convite para uma meditação sobre o valor e a importância da Eucaristia em nossa vida. A Eucaristia é um dos sete Sacramentos e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu Corpo… Este é o cálice do meu Sangue… fazei isto em memória de mim” (Mt 26,26). Quem pediu que nós ao longo dos tempos e da história celebrássemos s Eucaristia foi o próprio Cristo.  A Igreja católica cumpre este mandato até hoje, para perpetuar a presença salvadora de Jesus na história.   O texto bíblico  mais evidente e claro sobre a doutrina da Eucaristia é o capítulo 6 de São João. Todo ele  é um discurso eucarístico de Jesus que disse “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). A Eucaristia é a realização da promessa de Jesus que disse: “Eis que estarei convosco até a consumação dos séculos”(Mt 28).
Santo Tomás de Aquino afirmou “Nenhum outro sacramento é mais salutar do que a eucaristia. Pois, nele os pecados são destruídos, crescem as virtudes e a alma é plenamente saciada de todos os dons espirituais. A Eucaristia é o memorial perene da paixão de Cristo, o cumprimento perfeito das figuras da antiga aliança e o maior de todos os milagres que Cristo realizou” que a Eucaristia constitui o maior milagre realizado por Jesus neste mundo. A celebração de Corpus Christi consta de uma Missa, procissão e adoração ao santíssimo Sacramento. O destaque maior neste dia é a procissão com o Santíssimo, a qual recorda a caminhada do povo de Deus, como um povo peregrino neste mundo. No antigo testamento o povo foi alimentado pelo Maná, no deserto. Hoje, é alimentado com o próprio corpo e sangue de Cristo. 
Jesus, Pão do céu e médico celeste que cura e liberta todos aqueles que o buscam. Só ele é capaz de preencher os nossos vazios existenciais e plenificar nossa vida. Façamos parte do seu discipulado! A vida cristã consiste em viver  em Jesus Cristo, com Jesus Cristo e por Jesus Cristo neste mundo, ou seja, fazer da vida uma Eucaristia para os irmãos, como Fez o Senhor Jesus.  Que o Senhor Jesus, visibilizado pelo dom celestial da Eucaristia, abençoe nossas famílias e todo o nosso povo brasileiro.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.
Fonte: Zenit