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O homem, Deus e a manjedoura

O que teria passado na cabeça de José naquela noite, diante de Deus na manjedoura?

Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho único para a Salvação da humanidade. Filho de Deus nascido da Virgem Maria, confiado a José. Homem justo e bom! Homem do silêncio.

Neste grande mistério da nossa fé, nesta noite santa que mudou a humanidade, o que terá passado no coração deste homem? Não há textos que no-lo revele. Não há lenda que nos conte. Mas podemos, com nossa imaginação, tentar representar o que talvez ele tenha pensado, sentido, vivido. Peço-lhes licença para partilhar o que o meu coração de homem imagina sobre como poderia ter sido aquela noite, no coração de José, do homem diante de Deus numa manjedoura. É assim que imagino os pensamentos de São José:

“Depois que tudo terminou e antes que devêssemos partir às pressas, eu fiquei ali. Deixei ela e a criança descansando. Distanciei-me um pouco. A leveza da respiração do filho que me foi confiado me acalmava.
Sentei-me. E só aí pude me dar conta do que acabara de viver.

Lembrei-me das palavras do anjo: “não temas, José, de receber Maria por esposa. Pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.” Eu ali, olhando aquela criança, como poderá ela ser o Salvador? Como? Essa criança dentro dessa manjedoura? Salvador de quem?

Recordo-me que chegamos cansados. Procuramos um lugar, uma casa para nos acolher. E só recebemos “não”. Uma vez, duas, várias. Ele nem nascera e já era excluído. Decidimos então ficar aqui. Gostaria de ter dado um pouco de conforto. Nossa casa era simples, mas acolhedora. No entanto, estamos aqui. Entre alguns animais, única maneira de ser um pouco aquecidos. Ficamos aqui, nesta noite fria. Só nos restava a esperança da promessa.

E quando a criança nasceu, olhei para o lado, e como berço, só havia essa manjedoura. Como pode ser Ele o Salvador? Deitado aqui, nesta manjedoura suja, fria… foi aí que olhei para o rosto dela, de Maria, em paz. Tranquila. Com aquela confiança que lhe é comum. Ela acreditou. Sempre acreditou. Ela disse sim! Então lembrei que eu também disse sim! Eu aceitei, por amor. E me vi com meu pai me explicando como Deus criara o mundo. Disse para mim mesmo, se Ele foi capaz de criar o mundo, Ele é capaz de estar ali, dentro daquela manjedoura, dormindo. Porque o Altíssimo sempre surpreende.

Naquele instante entendi que se naquela manjedoura está o Salvador, aqui também está a humanidade. A minha humanidade.

Nessa palha suja e fria esconde-se nossa humanidade pecadora, cansada. Nessa criança adormecida se revela a Esperança, renovada.

Os pastores vieram. Magos do oriente. Maria sem dizer nada. Eu tampouco. Que mistério estamos vivendo? – perguntava-me. O mistério de Deus e seus projetos. O mistério do amor.

Foi então que, mais uma vez, aceitei! Aceitei que o Salvador só tivesse isso como berço. Mas naquele berço, os braços de seu povo, pesados de tanta luta. Aquilo fora como se Deus quisesse colocar sua respiração no compasso da respiração da humanidade. Como se ele quisesse que o seu coração batesse no ritmo do da humanidade. E ali, naquela manjedoura fria, o calor do amor divino dava sentido à espera. Sentido aos cansaços. Sentido à noite. Para que a nova vida aconteça.

Nasceu aqui, na noite de Belém, o Filho de Deus. Nasceu o Salvador. A Ele então, entrego minha vida. Deus está aqui e isso basta!”

Aproveitando deste belo mistério do Natal, convido você a mergulhar na vida e espiritualidade de José, homem revestido pela simplicidade, de espírito dedicado e coração puro, que acolheu a vontade de Deus no seio de sua família, a Sagrada Família.

Fonte: Aleteia
Imagem: Alexander Hoffmann | Shutterstock