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Natal: tempo de desfolhar-se

O Natal é uma nova oportunidade de entendermos como ser o novo Cristo no mundo de hoje

Em breve será mais uma vez Natal… e que grande graça poder renovar todos os anos a beleza de receber o Menino Deus na manjedoura dos nossos corações!

Não sei se o Natal tem um significado especial para você, caro leitor, cara leitora, mas para mim tem. E ele vai para além daquilo que já é belo neste tempo: reuniões familiares, confraternizações com os amigos, o embelezamento das nossas cidades… Natal pode ser entendido também como esse tempo de perdão. Sempre achei bela a iniciativa de algumas famílias de dar e pedir perdão, aproveitando a “magia” do Natal.

Porém o que é mais belo para mim é a graça de reviver, espiritualmente, o mistério de um Deus que se fez menino. Um Deus todo-poderoso que escolheu nascer de uma mulher, encarnar-se no seio de uma família pobre, fazer de uma manjedoura o seu berço e de humildes pastores de ovelha suas primeiras testemunhas…

O Senhor da terra e do céu, o criador de todos os anjos e santos, de todas as coisas visíveis e invisíveis, esse Deus nasceu na carne de um menino pobre e já marcado pela perseguição. Do início ao fim de sua vida, Cristo trouxe em seu corpo as marcas do Seu Amor. O Natal, o mistério da encarnação, é uma das maiores loucuras de amor de Deus.

Deixar que Jesus faça morada em nossos corações deve ser, também, em algum sentido, deixar que ele se encarne em nós. É deixar que ele tome posse da nossa carne, dos nossos pensamentos, das nossas certezas e incertezas, das nossas queixas, dos nossos mandos e desmandos, da nossa pobreza humana e espiritual. É deixar que ele transforme nosso olhar. O Natal é uma nova oportunidade de entendermos como ser esse novo Cristo no mundo de hoje. Um Cristo que escolhe estar onde ninguém quer estar. Um Cristo que escolhe amar. Acolher! E hoje? Como está a qualidade do nosso amor? Do nosso acolhimento? Da nossa maturidade? Humana e espiritual?

Santa Teresinha pôde provar logo cedo do poderoso e verdadeiro sentido do Natal. Pôde provar dessa nova encarnação de Jesus em seu seio de menina. Em seu diário ela se refere ao dia 25 de dezembro de 1886 como a noite da sua conversão. Ela narra que foi nesta data, que recebeu a graça de sair da infância. Sigamos um pouco este relato:

“… Papai gostava de ver minha satisfação, de ouvir meus gritos de alegria, quando eu retirava cada surpresa de dentro dos “sapatos encantados”, e o contentamento do meu Rei aumentava minha felicidade”.

Como qualquer criança, Teresinha tinha prazer em receber seus presentes de Natal. A data era esperada por ela também por isso. Mas no Natal de 1886 ela ouviu palavras que, para ela, seriam duras e inesperadas:

“Jesus, porém, querendo mostrar-me que devia livrar-me de alguns defeitos da infância, subtraiu-me também as inocentes alegrias desta idade. Permitiu que Papai, extenuado da Missa da meia-noite, se enfadasse dos meus sapatos na lareira, e profetizasse estas palavras que me atravessaram o coração: ‘Afinal, que sorte ser este o último ano!’”

Seu querido pai acabara de quebrar o grande encanto que o Natal representava para a pequena Teresa. Ela, porém, no lugar de fechar-se em si mesma escolheu crescer:

“Nessa noite, quando se fez fraco e sofredor por meu amor, tornou-me forte e corajosa, revestiu-me de sua armadura… Depois de sufocar minhas lágrimas, desci rapidamente a escadaria. A comprimir as batidas do coração, peguei meus sapatos, coloquei-os diante do Papai, e fui tirando alegre todos os objetos, com ar feliz de uma rainha”.

Ela cresceu! Não necessariamente em estatura, mas sobretudo em graça e humanidade. Ela entendeu que o mundo não poderia circular em torno de suas necessidades e manhas. Ela entendeu que deveria se comportar como um novo Cristo, como alguém que carrega em si as marcas do Amor. Nesse momento mesmo ela escolheu desfolhar-se.

 

 

Fonte: Aleteia
Imagem: Anna Om | Shutterstock