Neste artigo, o missionário Carmadélio Souza alerta sobre o risco da dicotomia santidade versus humanidade. Leia, na íntegra
Em um primeiro momento o título desse artigo causa uma certa estranheza, até porque nossa humanidade nos acompanha em tudo o que fazemos e não há como separar nossa dimensão material da dimensão espiritual
No entanto, o que queremos refletir é o erro comum que encontramos infelizmente em muitos cristãos que tem a ideia de que o chamado de Deus acontece fora de nossa humanidade e que a santidade, obra da graça em nossa vida, acontece descartando ou minimizando nossa participação no processo.
Sem dúvida, tudo é graça, mas como nos diz São Tomás de Aquino “a graça supõe a natureza”.
No seu sentido usual, a palavra natureza designa o mundo físico, mas no sentido filosófico o termo indica a essência de alguma coisa vista como princípio de ação, como princípio intrínseco de uma realidade.
São Tomás afirma nessa perspectiva que a natureza é uma capacidade passiva convidada a elevar-se ao estado sobrenatural e de que é a graça, esse dom gratuito de Deus, ajuda a natureza a agir nessa direção. É nesse sentido que entendemos a santidade como obra da graça de Deus agindo em nosso ser e que precisa, para isso, de nossa adesão e liberdade.
Não temos como negar nossa realidade humana, não somos anjos incorpóreos e, graças a Deus, apesar de nossas fraquezas e limites, nosso fim último é a felicidade eterna na presença de Deus e a contemplação da face Divina necessariamente passa pela santidade.
“Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Heb 12,14) nos confirma o autor da carta aos Hebreus
É mais comum do que se imagina encontrar cristãos que buscam a santidade criando uma separação entre a natureza e a graça como se fossem coisas antagônicas, quando na realidade são complementares.
Esse antagonismo acaba criando problemas como a busca de uma ‘santidade angélica’, não humana, onde o fiel perde contato com a realidade onde vive (local onde a santidade é necessária como instrumento de santificação do mundo) e se desumaniza, vivendo uma vida estranha e à parte, fugindo da “contaminação do mundo” no seu sentido extremo.
Um dos locais onde essa dicotomia é mais visível é na vivência da sexualidade, onde por ignorância de nosso chamado ao amor – que passa necessariamente pela nossa sexualidade – acabamos separando aquilo que Deus uniu: nosso corpo de nossa alma na unidade do nosso SER pessoal.
Essa dicotomia atinge a todos, inclusive casados!
Fonte: Shalom
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