Notícias

Assis: Encontro do Papa com os jovens

Assis: Encontro do Papa com os jovens
Encontro com os jovens da Úmbria na Praça da Basílica de Santa Maria dos Anjos
Sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Queridos jovens da Úmbria,
Boa tarde!
Obrigado por terem vindo, obrigado por esta festa! E obrigado pelas perguntas, muito importantes.
Fico contente que a primeira pergunta tenha sido de um casal jovem. Um belo testemunho! Dois jovens que escolheram, decidiram, com alegria e coragem formar uma família. Sim, porque é verdade mesmo, é preciso coragem para formar uma família!
Sim, é preciso ter coragem, é preciso ter coragem para formar uma família!
E a pergunta de vocês, jovens casados, se une à pergunta sobre a vocação. O que é o matrimônio? É uma verdadeira e própria vocação, como o são o sacerdócio e a vida religiosa. Dois cristãos que se casam reconheceram na própria história de amor o chamado do Senhor, a vocação a formar a partir dos dois, homem e mulher, uma só carne, uma só vida. E o Sacramento do matrimônio envolve este amor com a graça de Deus, o enraíza no próprio Deus. Com este dom, com a certeza deste chamado, é possível partir seguros, não se tem medo de nada, pode se enfrentar tudo, juntos!
Pensemos em nossos pais, nossos avós ou bisavós: se casaram em condições muito mais pobres do que as nossas, alguns em tempo de guerra, ou de pós-guerra; alguns são emigrados, como os meus pais. Onde encontravam a força? A encontravam na certeza de que o Senhor estava com eles, que a família é abençoada por Deus com o Sacramento do matrimônio, e que abençoada é a missão de colocar no mundo os filhos e educá-los. Com estas certezas superaram também as provações mais duras. Eram certezas simples, mas verdadeiras, formavam colunas que sustentavam o amor deles.
Não foi fácil a vida deles. Eles tinham problemas, tantos problemas, mas estas certezas simples os ajudavam a seguir adiante. E conseguiram formar uma bela família, a dar vida, conseguiram criar os filhos.
Queridos amigos, é preciso esta base moral e espiritual para construir bem, de maneira sólida! Hoje, esta base não é mais garantida pelas famílias e pela tradição social. Ao contrário, a sociedade em que vocês nasceram privilegia os direitos individuais mais do que a família, estes direitos individuais, as relações que duram para que não surjam dificuldades, e por isso às vezes fala de relações do casal, da família e do matrimônio de modo superficial e equívoco. Bastaria olhar certos programas televisivos!
E podemos ver estes valores… Quantas vezes os párocos – eu também ouvi isso algumas vezes-, quando chega um casal que quer se casar e diz “nos amamos muito mas ficaremos juntos até que o amor acabe”. Isso é egoísmo. Quando não sinto, corto o matrimônio, e esqueço daquilo que é uma só carne, que não pode separar-se, é arriscado casar-se. O egoísmo nos ameaça. Dentro de nós temos a possibilidade de uma dupla personalidade: uma que diz o outro e outra que diz eu, meu, comigo… é egoísmo sempre, que não sabe se abrir aos outros.
A outra dificuldade é esta cultura do provisório, de não buscar nada que seja definitivo, mas o provisório, o amor enquanto dura.
Uma vez eu ouvi um seminarista muito bom que dizia: “quero ser padre por dez anos, depois vejamos”. Essa é a cultura do provisório. Mas Jesus não nos salvou de maneira provisória, nos salvou definitivamente.
Mas, o Espírito Santo suscita sempre respostas novas às novas exigências! E assim, se multiplicaram na Igreja os caminhos para os noivos, os cursos de preparação para o Matrimônio, os grupos de jovens casais nas paróquias, os movimentos familiares… São uma riqueza imensa! São pontos de referência para todos: jovens em busca, casais em crise, pais em dificuldade com os filhos e vice-versa. Mas nos ajudam todos. E há ainda as diferentes formas de acolhimento como: adoção temporária, adoção, abrigos para menores de vários tipos… A fantasia [me permita a palavra] do Espírito Santo é infinita, mas é também muito concreta! Então, gostaria de dizer para vocês não terem medo de dar passos definitivos. Não tenham medo.
Quantas vezes ouço mães que me dizem “tenho um filho de 30 anos anos que não se decide, não se casa. Ele namora, mas não casa”. Então eu digo, “senhora, não passe mais as camisas dele”. Não tenham medo de dar passos definitivos como o é o matrimônio: aprofundem o amor de vocês, respeitando o tempo e as expressões de cada um, rezem, se preparem bem, mas tenham também confiança de que o Senhor não deixa vocês sozinhos! Façam com que Ele entre na casa de vocês como alguém da família, Ele sempre sustentará vocês.
A família é a vocação que Deus escreveu na natureza do homem e da mulher, mas há uma outra vocação complementar ao matrimônio: o chamado ao celibato e à virgindade pelo Reino dos céus. É a vocação que o próprio Jesus viveu. Como reconhecê-la? Como segui-la? É a terceira pergunta que vocês me fizeram.
Alguns de vocês pode perguntar: “como esse bispo é bom, acabaram de perguntar e já tem as respostas escritas”. É que eu já respondi uns dias atrás…
E respondo para vocês com dois elementos essenciais: rezar e caminhar na Igreja. Estas duas coisas devem seguir juntas, são interligadas. Na origem de cada vocação à vida consagrada existe sempre uma experiência forte de Deus, uma experiência que não se esquece, que se recorda por toda a vida! Foi o que aconteceu com Francisco. E isso nós não podemos calcular ou programar. Deus nos surpreende sempre! É Deus que chama; porém é importante ter uma relação cotidiana com Ele, escutá-Lo em silêncio diante do Tabernáculo e no íntimo de nós mesmos, falar com Ele, aproximar-se dos Sacramentos. Ter esta relação familiar com o Senhor é como ter aberta a janela da nossa vida para que Ele nos faça ouvir sua voz, o que Ele quer de nós. Seria belo ouvir vocês, ouvir os padres aqui presentes, as freiras… Seria belíssimo, porque cada história é única, mas todas partem de um encontro que ilumina no profundo, que toca o coração e envolve toda a pessoa: afeto, intelecto, sentidos, tudo.
A relação com Deus não diz respeito somente a uma parte de nós mesmos, diz respeito a tudo. É um amor tão grande, tão belo, tão verdadeiro, que merece tudo e merece toda a nossa confiança. E uma coisa gostaria de dizer com força, especialmente hoje: a virgindade pelo Reino de Deus não é um “não”, é um “sim”! Certo, comporta a renúncia a um elo conjugal e uma própria família, mas na base está o “sim”, como resposta ao “sim” total de Cristo para conosco, e este “sim” os torna fecundos.
Mas, aqui em Assis não há necessidade de palavras! Aqui tem Francisco, tem Clara, eles falam! O carisma deles continua a falar a tantos jovens no mundo inteiro: rapazes e moças que deixam tudo para seguir Jesus no caminho do Evangelho.
E isso, Evangelho. Gostaria de tomar a palavra “Evangelho” para responder outras duas perguntas que vocês me fizeram, a segunda e a quarta. Uma diz respeito ao compromisso social, neste período de crise que ameaça a esperança; e a outra diz respeito à evangelização, o levar o anúncio de Jesus aos outros. Vocês me perguntaram: o que podemos fazer? Qual pode ser nossa contribuição?
Aqui em Assis, aqui perto da Porciúncula, parece que podemos ouvir a voz de são Francisco que nos repete: “Evangelho, Evangelho!”. O diz também a mim, melhor, primeiro a mim: Papa Francisco, seja servidor do Evangelho!
Se eu não consigo ser um servidor do Evangelho, a minha vida não vale nada. Mas, o Evangelho, queridos amigos, não diz respeito somente à religião, diz respeito ao homem, todo o homem, e diz respeito ao mundo, à sociedade, à civilização humana. O Evangelho é a mensagem de salvação de Deus pela humanidade. Mas quando dizemos “mensagem de esperança”, não é um modo de dizer, não são simples palavras ou palavras vazias como existem tantas hoje! A humanidade precisa ser salva verdadeiramente! O vemos todos os dias quando folheamos o jornal, o ouvimos nas notícias na televisão; mas o vemos também ao nosso redor, nas pessoas, nas situações…; nós o vemos em nós mesmos! Cada um de nós precisa da salvação! Sozinhos não conseguimos. Salvação do que? Do mal. O mal opera, faz seu trabalho. Mas o mal não é invencível e o cristão não se rende diante do mal. E vocês jovens, querem se render ao mal, às injustiças, às dificuldades?
Querem ou não?
O nosso segredo é que Deus é maior que o mal: E isso é verdade: Deus é maior que o mal. Deus é amor infinito, misericórdia sem limites, e este Amor venceu o amor pela raiz na morte e a ressurreição de Cristo. Este é o Evangelho, a Boa Notícia: o amor de Deus venceu! Cristo morreu na cruz pelos nossos pecados e ressuscitou. Com Ele nós podemos lutar contra o mal e vencê-lo todos os dias. Cremos nisto ou não?  SIM!
Mas este sim deve ser levado na vida. Se eu creio que Jesus venceu o mal e me salva, devo seguir o caminho de Jesus durante toda a vida.
Então, o Evangelho, esta mensagem de salvação, tem duas destinações que estão ligadas: a primeira, suscitar a fé, e esta é a evangelização; a segunda, transformar o mundo de acordo com o desígnio de Deus, e esta é a animação cristã da sociedade. Mas não são duas coisas separadas, são uma única missão: levar o Evangelho com o testemunho da nossa vida transforma o mundo! Este é o caminho! Levar o Evangelho com o testemunho da nossa vida
Olhemos para Francisco: ele fez todas estas duas coisas, com a força do único Evangelho. Francisco fez crescer a fé, renovou a Igreja; e ao mesmo tempo renovou a sociedade, a tornou mais fraterna, mas sempre com o Evangelho.
Sabem o que uma vez Francisco disse aos seus irmãos. Preguem sempre o Evangelho e se for necessário, também com palavras. Mas, como é possível pregar o Evangelho sem palavras: sim com o testemunho, primeiro o testemunho.
Jovens da Úmbria: façam assim vocês também! Hoje, em nome de são Francisco, digo para vocês: ouro e prata não tenho para lhes dar, mas algo muito mais precioso, o Evangelho de Jesus. Vão com coragem! Com o Evangelho no coração e nas mãos, sejam testemunhas da fé com a vida de vocês.
Levem Cristo à casa de vocês. Acolham e testemunhem nos pobres. Jovens deem à Úmbria uma mensagem de paz e esperança. Vocês podem fazer isso.