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A vida como caminho para uma harmonização

É comum entre nós dizer que a vida é caminho, evoluindo de etapa em etapa dentro de um contexto sociopolítico e sociocultural, cercado de estruturas. Buscamos um lugar ao sol da vida: o meu lugar. Minha vocação, se cristão eu sou.
Caminhamos para dar certo. Damos certo se sabemos construir sentido para nossas vivências. Vivenciamos tantas coisas, sentimos tão diversamente as situações que podemos nos fragmentar. Somos um poço de surpresas para nós mesmos. E mais: com frequência nos sentimos invadidos pela sensação de infelicidades: desgastes e desgostos. Afinal, o viver é mesmo um choque também com a realidade. Tudo parecia correr bem quando um imprevisto rompe a harmonia, recheada de boas alegrias até então.
Os sofrimentos são o imprevisto sempre possível, nunca desejado e muito menos esperado. Eles nos acontecem. Como pode o sofrimento se tornar um choque benéfico? Que coisa desafiante: eu, sofrido, mas saudável. Até mesmo santificado. Ah, sim, os padecimentos podem ser vividos como redenção de nós mesmos. Depende da sabedoria adquirida ao viver. Aprendizado. Depende do sentido que damos aos acontecimentos doloridos, dolorosos. É que na raiz do sofrer está lançada esta questão: – Quem sou eu e Quem Deus é para mim.
Nós somos corporeidade, terra precária unida definitivamente à condição de nos humanizar, sonhando plenificações e até uma plenitude sem fim. E quem vem nos libertar desta estreiteza e encher este sonho largo?
Coisa boa é caminharmos harmonizando-nos, mas quando a harmonização se rompe… Que Deus nos acuda. O Deus-Amor, amigo da VIDA é quem nos sustenta. Somente Ele pode nos dizer: Porque EU te amo, tu viverás para sempre. E Eu te acompanho pelos caminhos que percorres. Conta comigo.
É preciso acreditar em Deus e em Sua promessa. E ter em nós seu Santo Espírito, como Jesus nos anunciou. Precisamos Dele. Peregrinamos nos afeiçoando e sendo afetados, posto que somos AFETIVIDADE. O grande risco é nos apegar a coisas, lugares, pessoas, situações. Cegueira branca. Amores desordenados. Desordens amorosas. Passamos do encontro fecundo ao exclusivismo irracional. Saber desapegar!
O amor inteligente gera sabedoria que separa claramente o provisório do definitivo. O joio das intrigas. Já descobriu isso? Quem consegue sabe que que não podemos excluir o sofrimento enquanto parte da totalidade da vida. Realismo. Essa totalidade do existir conjuga os opostos: alegrias e pequenas tristezas, grande dor e perdas com serenidade, saúde e doenças, gozo de conviver e desarmonias relacionais. Ainda que a gente chore bastante. Quem de nós não conhece pessoas que lidam com seus padecimentos qual confeiteiro que mistura opostos, resultando em algo que seja doce? São, apesar de tudo, pessoas irradiantes, de uma aura que causa admiração. Há mesmo que se rechear a vida com sentido, significados, valor e prazer.
Lembro-me de um dizer de Romano Guardini, pensador católico: “EU FUI DADO Á VIDA”. A vida como um presente. E quem tem me ensinado a caminhar? Eu me recebo ao longo dos acontecimentos. Cuido de mim, pois sou cuidado por Alguém MAIOR que eu. Gente existe que se ilude com certas modalidades de “felicidade”. São infelicitados por não saberem lidar com as dores de todo peregrino. Peregrinos somos todos. Infeliz quem não suporta a si mesmo.
Ouvi, faz tanto tempo, que cada pessoa cresce quando se dá conta da PALAVRA que leva dentro de si. É como uma senha que desfaz o malfeito, abre portas de possibilidades, faz a pessoa apanhadora de possibilidades. Então, leitora e leitor, que Palavra brilha sobre seu caminhar? A certeza de que esta Palavra existe nos torna confiantes na bondade radical da vida.
E superamos os tempos difíceis, vencemos obstáculos, nos reorganizamos. Recuperamos a música de SER alguém e até a dança da vida que nos harmoniza. Habitar a nós mesmos, que felicidade! O mar da vida a clamar por transfigurações. Por vidas harmonizadas.

Fonte: A12