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Testemunho do missionário Emanuel: uma viagem pela realidade da periferia de Lima

Testemuhno do missionário Emanuel: uma viagem pela realidade da periferia de Lima

No final de semana dos dias 26 e 27 de janeiro, tivemos nas missas em nossa paróquia a possibilidade de ouvir e conhecer um pouco os irmãos da nossa missão em Lima através do testemunho do missionário Emanuel Lourenço. Ele é originário da nossa paróquia e, com alegria e simplicidade, partilhou a experiência que está vivendo com irmãos peruanos, da periferia de Lima, onde a comunidade missionária de Villaregia está presente desde 1986. Por um instante, pudemos “viajar” em missão, também em comunhão com a nossa Arquidiocese que nos chamou a viver o Ano Missionário, olhando para fora de nós.
Seguindo as leituras que a Igreja nos apresentava neste final de semana, Emanuel nos convidou a olhar mais de perto três verbos que a Palavra lhe sugeria para serem aplicados em nossas vidas e realidades.
O primeiro verbo foi ESCUTAR. À luz da primeira leitura, Emanuel chamou a atenção para o profeta Esdras e como a Palavra de Deus era importante para o povo. A atitude de escuta serve para a nossa vida, devemos usá-la no dia-a-dia, para que, através da escuta, a Palavra possa se tornar espírito de vida.
Já o segundo verbo, DISCERNIR, foi tomado da segunda leitura, onde dizia que a Igreja é um corpo e que cada um faz parte deste corpo, cada um tem seu lugar dentro da Igreja. Neste ponto, um questionamento: qual serviço eu tenho e posso colocar à disposição da Igreja para que esse corpo seja completo? Pois somos sempre chamados a servir! Não importa como e quando, nenhum dom é melhor que o outro, mas cada um depende do outro.
E o terceiro verbo foi ANUNCIAR. Este verbo foi sugerido pelo o próprio evangelho do dia, através da vida pública de Jesus. Ele lê a Palavra que diz: “O espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres”… Todos nós somos chamados a ter esta atitude de Jesus: anunciar a boa nova. E à luz desta atitude e chamado, Emanuel respondeu sim e foi encontrar e anunciar esta verdade aos irmãos de Lima. Ele, com a atitude de Moisés, tirou as “sandálias” e entrou neste “solo sagrado”, Lima.
Lima é a segunda maior cidade do mundo construída num deserto. A paisagem é uma realidade de areia onde chove muito pouco ou quase nada (80mm de água por ano), portanto a água é para eles algo de precioso. A falta da água torna a natureza escassa e marcada pelo clima desértico.
Mesmo com essa triste realidade, quando se chega a Lima, a pessoa logo se sente em casa, porque se encontra com um povo acolhedor, que recebe o estrangeiro, não como estrangeiro, e sim como irmão que está a seu lado. É um povo que valoriza a própria cultura. “Pude experimentar desta cultura olhando as festas, onde o povo demonstra seu amor por essa nação. Encontrei um povo solidário, onde é forte a sensibilidade com o outro.”, disse Emanuel. Ao mesmo tempo onde se ama a cultura, se vive a triste realidade de desigualdade social, porque 27% da população vivem em situação de pobreza e outros 2% vive em extrema pobreza, sobrevivendo com menos de R$ 8,00 por dia. É uma luta ir em frente numa terra onde se paga caro pela água.
Quando falamos de desigualdade, podemos constatar esta realidade. Na periferia, foi construído um muro chamado “muro da vergonha”: de um lado vivem os pobres, menos favorecidos e do outro os ricos com suas mansões, jardins floridos, empregados. Aqui é preciso levar o anúncio para que os pobres e ricos encontrem o amor de Deus e possam viver como irmãos.
Na paróquia onde está a comunidade, andando pelas ruas nos deparamos a cada dia com a vida sofrida do povo. As ruas se tornaram uma possibilidade de sobrevivência; então encontramos de tudo sendo vendido. Nesses últimos tempos, há muito lixo a céu aberto por uma falta serviço de coleta e limpeza urbana. Uma boa notícia é que o governo começou a olhar para este povo, e a coleta está sendo feita a cada três dias.
“A Comunidade, frente a esta realidade, é chamada a ser voz para este povo e eu Emanuel ao dizer sim, sou chamado a anunciar lá onde Jesus me diz: leva o evangelho aos mais sofridos.”
Junto ao anúncio e diante da necessidade deste povo, a comunidade missionária abriu uma creche onde as crianças possam ficar enquanto os pais trabalham. No final do ano, perguntamos as crianças: o que era o Natal? E na inocência e pureza de criança, uma me respondeu: “Natal para mim é desmontar a cama de minha irmã! Porque nossa casa é pequena, então desmontamos a cama dela para montar o presépio…”
Que possamos “desmontar” dentro de nós o que for preciso para deixar espaço para o Menino Deus nascer. E “desmontar a cama” é anunciar o Evangelho. A atitude de escuta que a Palavra nos pede é justamente para que possamos nos comprometer a caminhar com Jesus sendo discípulos e levando a boa nova a cada criatura.

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