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“RE-CONSTRUINDO UMA HISTÓRIA”

Entrevista na Integra: Viviane Rodrigues

Poderia nos falar um pouquinho de você?

Gosto mais quando os outros falam de mim, rsrs. Me vejo pouco… sei pouco de mim. Basicamente, sei o necessário: o meu nome, Viviane Rodrigues, que nasci em 70, década que amo, sei que estudei e estudo tudo que queria e quero como profissional que é Teatro, pela UFMG, Filosofia, na PUC Minas, e agora, Pedagogia EAD. Trabalho com teatro, comunicação e educação há mais de 20 anos. Nasci e escolhi morar na regional Oeste, e tenho um compromisso profundo com a cultura e o povo desta região que considero parte importante de quem sou hoje. Aqui estão meus primeiros e mais importantes formadores humanos, espirituais e profissionais, porque, foi aqui que iniciei minhas experiências no mundo do teatro, das artes, minha educação e formação cristã missionária, e iniciei meus trabalhos profissionais como atriz, professora e produtora de teatro e TV.

Quando você conheceu a Paroquia São Sebastião?

Na década de 80, tudo no século passado, a CMV chegou ao Betânia e eu, com meus irmãos, éramos muito jovens, participantes da Paróquia de São João Batista, no Salgado Filho. Minha mãe era uma figura indescritivelmente iluminada, e como eram muitos filhos pra criar, pouco tempo e recursos pra investir, levou-nos para o lugar seguro para a formação de um indivíduo, a religião. Ela era muito equilibrada, uma mística e fiel, por isso, levou-nos e nos acompanhava na caminhada, uma vez que atuava ativamente nas pastorais da igreja. Então, o padre Pedro de Souza Pinto, o padre Pedrinho, vendo que éramos muito envolvidos nas pastorais, e a luta da minha mãe para nos manter neste caminho comunitário, a chamou e disse: “Carminha, chegou uma Comunidade Missionária aqui no Betânia que eu acho que é o que precisamos pra esses meninos. Lá seus meninos vão achar lugar, porque, os missionários trabalham muito, tem trabalho pra manter esses meninos perto de Deus. Eu vou convidá-los pra fazer uma semana missionária aqui na Paróquia, e vou marcar um encontro com os jovens. Vamos encaminhar esses meninos pra lá.” E assim foi. Minha mãe chegou em casa em polvorosa! Colocou-nos pra esperar o dia da chegada dos missionários como se espera o Natal, a Páscoa… Ela era apaixonada pelas coisas do céu, queria nos ver bem. Então tudo aconteceu. Conheci a Rosana e o Pe. Henrique, viemos para os primeiros encontros, e não saímos mais. Cheguei pelo canal da CMV. A Comunidade Missionária de Vilaregia, na verdade, foi a porta de entrada para muitos de nós que estamos aqui. Eu escolhi morar aqui quando fui adquirir uma residência fixa, em função da vida na comunidade. Amo este lugar. As pessoas, as ruas, o comércio, o ar do Betânia. Vi muitas transformações aqui e me sinto parte delas. É um lugar de povo aberto, corajoso, sem preconceitos. Amo.

Como surgiu o convite da peça em homenagem aos 45 anos da Paróquia?

Um querido amigo, companheiro de fé e caminhada, Padre Luís Carlos, me convidou. Eu sempre estive ao lado da CMV nos trabalhos da Paróquia, inclusive, no teatro na década de 80 e 90. E nos trabalhos de produções artísticas quando necessário, como produção de vídeos. Agora, pra falar a verdade, sempre sonhei escrever a história deste povo, sabe?! De todos nós. Essa paróquia é muito viva! E o padre Luís chegou dando continuidade ao projeto de empoderamento dos paroquianos. Escolheu o caminho de ouvir e agir segundo a inspiração do que pulsa neste território chamado Betânia. Resgatar a memória de um povo é resgatar

a razão de um povo. A CMV sempre foi muito atenta aos chamados do tempo em que vivem. O bairro precisa se encontrar, apropriar-se de sua história, pois, o Betânia foi construído por seus moradores, uma vez que o Estado não tem atuação estética e pública nas periferias. Portanto, recuperar a memória, redescobrir a força que temos enquanto idealizadores e construtores de nossas vidas, nossas realidades, vai nos trazer um sopro novo para dar continuidade a esta história maravilhosa que é a do nosso bairro.

Como está sendo pensando o espetáculo, o processo?

O projeto está dividido em etapas. A primeira etapa é de pesquisa, entrevistas, enfim, de muito estudo e investigação. A segunda etapa será de preparação de elenco, com oficina de teatro e muito mais para os atores amadores, que são as pessoas do bairro e da paróquia, escrita da dramaturgia, e início da produção executiva. Depois, a terceira e última etapa, de apresentação do espetáculo. Mas, em todas as etapas a participação das pessoas é fundamental. Estamos recebendo já relatos de pessoas que me ligam, mandam mensagens para contar casos e convidar para conversas. Está sendo um período lindo do projeto. Isto é muito bom, porque, sem a participação das pessoas não teremos espetáculo. Por isso, não estou deixando passar ninguém. A pessoa pisca, diz que sabe de alguém, de um caso, eu colo e anoto. É preciso paciência e controle da ansiedade, porque, um projeto deste tamanho exige uma organização exímia para não virar um Frankenstein. Então, primeiro estou organizando as informações, para depois coletar os relatos, pois, é preciso distanciamento e assepsia na coleta destas escutas, já que, nesta etapa, não é hora da fantasia, mas da humildade e da fidelidade ao ouvir o relator. Depois, na escrita da dramaturgia sim, é quando a fantasia e a criatividade entrarão, o que chamamos de “licença poética” para contar a história. Aí sim, será a construção do espetáculo.

O que representa pra você em particular estar à frente dessa homenagem teatral?

Sinceramente, gostaria de encontrar uma palavra, uma expressão para responder de maneira que o mundo entendesse o meu sentimento, mas não encontro. Então, me pego dizendo mentalmente em vários momentos: eu agradeço, eu agradeço, eu agradeço. Confesso, tenho andando muito emocionada com este convite, pois, pra mim, é um chamado vocacional. Na minha profissão é muito fácil se perder e viver somente pelo e para o espetáculo, num estado de vislumbramento e vazio. Na verdade toda profissão pode te levar para este lugar, e eu peço a Deus que não chegue nunca ai. Acredito que nascemos para servir, criar, iluminar… É uma honra receber uma tarefa tão cheia de significado e importância como esta. Depois do convite, tenho tentado ficar mais atenta, pois, sinto que meu Deus e Pai tem muito carinho comigo e com minha existência, porque, me trouxe até aqui. Outro dia ganhei um abraço de uma senhora que eu via sempre nas celebrações e nunca nos falamos. Então eu pensei: “Que alegria, meu Deus! Ela agora entrou de verdade na minha vida e eu na dela… somos um!”, porque, é isto que buscamos como igreja viva, não é mesmo? Sermos todos um com nossas particularidades, personalidades, independente de idade, cor, nacionalidade, cultura.

Onde e quando será a peça?

O espetáculo tem previsão de estreia para Janeiro de 2019, e será no salão da Igreja, porque, pensamos ser muito significativo este espaço, que é do povo do

bairro, que o construiu. Vocês não têm ideia das fotos desta construção. Eu fiquei muito comovida com as fotos que vi, com as histórias que ouço. O salão será transformado em um teatro. Também é uma forma de todos poderem assistir, pois, serão 3 dias de apresentações, e perto de todos que são a inspiração e a razão deste projeto.

Gostaria de mandar algum recado para quem for assistir a peça?

Coloquem-nos em seus pensamentos e orações. Precisamos da oração e do bem querer de todos. A arte é uma velha senhora que só vive se você a olha, vai ao seu encontro, a busca, colabora com ela. Por isso, esperamos poder contar com todos hoje, durante o processo, e na estreia.