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Não fechar as portas da Igreja para quem precisa, pede Francisco 

Papa afirma que é a iniciativa de Deus que salva o homem e destaca responsabilidade dos pastores que fecham a porta aos outros

Na Missa desta quinta-feira, 19, na Casa Santa Marta, o Papa Francisco rogou a Deus que ajude os fiéis a lembrar a gratuidade da salvação, a proximidade de Deus e as obras concretas de misericórdia que quer de cada pessoa, seja material ou espiritual. “Desta forma, nos tornaremos pessoas que ajudam a ‘abrir a porta’ para nós mesmos e para os outros”, afirmou.

Na homilia, o Santo Padre inspirou-se na passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 11, 47-54), proposto pela liturgia do dia, que refere que os escribas e fariseus se consideram justos e a quem Jesus mostra que só Deus é justo. Francisco explicou que o motivo pelo qual os doutores da lei tomaram “conhecimento”, com a consequência de “não entrarem no Reino e, nem sequer, deixar os outros entrarem”.

“Esta habilidade para entender a revelação de Deus, para entender o coração de Deus, entender a salvação de Deus – e a chave para o conhecimento – podemos dizer que é um grave esquecimento. Se esquece a gratuidade da salvação. Se esquece a proximidade de Deus e Sua misericórdia. E aqueles que se esquecem da gratuidade da salvação, da proximidade e da misericórdia de Deus, tiraram a chave do conhecimento”, explicou o Pontífice.

O Papa acrescentou que é a iniciativa de Deus que salva o homem, e a lei, por outro lado, é sempre uma resposta ao amor gratuito de Deus. “Quando a gratuidade é esquecida, se cai, se perde a chave da inteligência da história da salvação, perdendo o sentido da proximidade de Deus”.

“Para eles Deus é aquele que fez a lei. E esse não é o Deus da revelação. O Deus da revelação é Deus que começou a caminhar conosco a partir de Abraão até Jesus Cristo, Deus que caminha com seu povo. E quando se perde essa relação de proximidade com o Senhor, se cai nessa mentalidade obtusa que acredita na autossuficiência da salvação com o cumprimento da lei. A proximidade de Deus.”

Francisco disse ainda que quando há falta de proximidade com Deus e falta de oração, não se pode ensinar a Doutrina e nem mesmo “fazer teologia”, muito menos a teologia moral. “[A teologia] está de joelhos, sempre perto de Deus”, enfatizou.

E a proximidade do Senhor chega “ao cume de Jesus Cristo crucificado”, sendo que nós fomos “justificados” pelo sangue de Cristo, como diz São Paulo. Por isso, explicou o Papa, as obras de misericórdia “são a pedra de toque do cumprimento da lei”, porque se toca a carne de Cristo, ”tocar Cristo que sofre numa pessoa, seja corporalmente, seja espiritualmente”.

Ademais, Francisco chamou a atenção para o fato que quando se perde a chave do conhecimento, se acaba por chegar até mesmo “à corrupção”. Por fim, o Papa pensou na “responsabilidade” dos pastores, hoje na Igreja: quando perdem ou levam embora “a chave da inteligência”, fechando “a porta para nós e para os outros”.

“Em meu país ouvi muitas vezes acerca de párocos que não batizavam os filhos de jovens mães, porque não tinham nascido no matrimônio canônico. Fechavam a porta, escandalizavam o povo de Deus, por qual motivo? Porque o coração destes párocos tinha perdido a chave do conhecimento. Sem ir tão longe no tempo e no espaço, três meses atrás, num país, numa cidade, uma mãe queria batizar o filho recém-nascido, mas ela era casada civilmente com um divorciado. O pároco disse: “Sim, sim. Batizo a criança. Mas seu marido é divorciado. Fique de fora, não poderá estar presente na cerimônia”. Isso acontece hoje. Os fariseus, os doutores da lei não são coisas daqueles tempos, também hoje existem muitos. Por isso é necessário rezar por nós pastores. Rezar, a fim de que não percamos a chave do conhecimento e não fechemos a porta para nós e para o povo que quer entrar.

Fonte: Canção Nova